A
explosão da demanda no transporte aéreo no Brasil está gerando uma acirrada
disputa entre as empresas por tripulação para seus novos voos, lançados quase
semanalmente. Com o crescimento da necessidade de contratações, comissários,
copilotos e comandantes entraram em uma verdadeira dança das cadeiras, migrando
de uma companhia para outra em busca de melhores salários e benefícios.
Só no
último mês, cerca de 60 comissários debandaram da Gol em direção à TAM, segundo
o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA). 'As pessoas vão para a TAM, onde há
possibilidade de fazer voos internacionais e obter melhores salários', afirma o
presidente da entidade, Gelson Fochesato.
Desde
o início do ano, a TAM admitiu 950 aeronautas, dos quais mais de 750 são
comissários. Já a Gol contratou 183 copilotos e 501 comissários até agora, ante
43 e 59 em todo o ano passado, respectivamente.
As
companhias de menor porte, que têm tomado mercado das duas líderes, também
estão engordando os números de contratação no setor. A regional Trip planeja
chegar ao fim do ano com 183 novos copilotos e comandantes, 60 a mais do que o
total incorporado no ano passado. A Azul, a três meses do fim do ano, já
repetiu as 43 admissões de comandantes de 2009. O número de copilotos que
ingressaram na companhia cresceu de 69 para 78, e o de comissários saltou de
173 para 241.
Para o
presidente da Azul, Pedro Janot, a disputa por profissionais é resultado não só
do número cada vez maior de brasileiros que viajam de avião, mas também da
maior concorrência no setor - acirrada, inclusive, pela criação da própria
companhia. Fundada há menos de dois anos, hoje a Azul já detém 6% de
participação no mercado. 'De um mercado estático, em que havia duas companhias,
estamos entrando em um mercado dinâmico', disse.
No
chão
A
migração de aeronautas entre companhias ficou evidente no fim do mês passado,
quando quase metade dos voos da Webjet não pôde decolar por insuficiência de
tripulantes. Um dos motivos foi a saída de pilotos da empresa - a quarta maior
do País - para trabalhar na TAM e na Gol. 'Isso acontece por conta dos salários
pagos na Webjet. O mercado está aquecido, concorrentes estão pagando mais e
oferecendo melhores condições de trabalho', disse a diretora do SNA, Graziella
Baggio.
O
vice-presidente de operações da companhia, Fernando Sporleder, atribuiu os
cancelamentos do mês passado a um problema pontual: uma falha no simulador
usado para treinar os pilotos. Diante do imprevisto, segundo o Estado apurou, a
empresa não conseguiu formar funcionários recém-contratados no mesmo ritmo em
que perdia pilotos para a concorrência. Sporleder afirma que a empresa não será
atingida novamente pela falta de aeronautas. 'Não vejo grandes problemas, pois
estamos no topo da pirâmide', declarou, em meio à crise de imagem causada pelos
cancelamentos em série. 'Buscamos tripulantes nas companhias regionais, de táxi
aéreo e de aviação executiva. Essa base é muito grande.'
O
executivo informou que a empresa já começou a se preparar para que não faltem
tripulantes no ano que vem. 'Estamos contratando mais uma turma de 20
copilotos, que começa no dia 18 de novembro, para atender ao crescimento
esperado para o primeiro trimestre de 2011', disse Sporleder.
Já
Leonard Grant, diretor de operações e treinamento da TAM, admite que o problema
da migração de profissionais não é exclusividade das pequenas empresas.
'Perdemos muitos copilotos eficientes este ano para outras empresas, que
ofereceram promoções mais rápidas. Aqui, eles seriam promovidos a comandantes
em dois anos. Na concorrência, a promessa é de que seriam promovidos em seis
meses', afirmou. Segundo ele, a Azul foi o principal destino desses aeronautas.
A
companhia aérea de David Neeleman também garimpou pilotos brasileiros que
estavam em empresas estrangeiras. Muitos profissionais da Varig, Transbrasil e
Vasp foram trabalhar no exterior quando essas companhias começaram a entrar em
declínio. Desde o início do ano, a Azul repatriou 50 aeronautas. 'Quem foi voar
lá fora não saiu do País por aventura. Foi por falta de oportunidades aqui.
Agora, temos a possibilidade de trazer pilotos altamente experientes de volta
para casa', disse o vice-presidente técnico operacional da companhia, Miguel
Dau.
Disputa
Parte
da disputa pesada pelos profissionais pode ser explicada pela rápida mudança no
cenário econômico do País. A crise financeira internacional forçou as empresas
a diminuir o ritmo das contratações. 'O número de admissões do segundo semestre
de 2008 até o fim de 2009 foi muito baixo', diz Leonard Grant, da TAM. 'Ao
mesmo tempo, como o tripulante é um funcionário caro, a tendência é trabalhar
sem excessos', complementou.
Com os
quadros enxutos e em meio à retomada da economia neste ano, as empresas tiveram
de dar início a uma caça aos profissionais já treinados e prontos para
trabalhar. 'Com a volta do crescimento do setor, as empresas aéreas passaram a
receber novas aeronaves ou a aumentar a utilização dos aviões que já possuíam',
diz Grant.
O
outro lado
Se
para as empresas do setor a expansão do mercado doméstico de aviação traz o
revés da disputa por mão de obra qualificada, para os profissionais
recém-formados, claro, o cenário não poderia ser melhor. Esse é o caso do
comissário Demitrius de Morais, chamado pela TAM para uma entrevista apenas
cinco dias após cadastrar o currículo no site da empresa.
'Não
esperava que fosse tão rápido', comentou o profissional, que foi contratado em
maio. Esse é seu primeiro emprego como comissário. Antes de começar a voar, no
início do mês passado, Morais passou por um período de treinamento dentro da
TAM.
fonte: A Folha